
HÁ ESPERANÇA NO CURTO PRAZO
*Sérgio Birchal
Há um ano o espírito dominante em relação à economia brasileira não era diferente. Havia uma enorme reversão das expectativas dos agentes econômicos. Havia muita esperança de que finalmente a crise terminaria.
As previsões do mercado eram de um crescimento de 2,5% do PIB, dólar a R$ 3,80 e taxa Selic em 7,5% ao ano.
A eleição do novo Presidente da República renovou as esperanças da aprovação de reformas consideradas fundamentais para o crescimento dos investimentos e da economia.
Principalmente, a reforma da previdência.
Os gastos com a previdência eram a principal fonte de sangria nas contas públicas e estancar a sua trajetória de crescimento explosivo era condição sine qua non.
No entanto, o caminho político da reforma mostrou ser mais espinhoso do que parecia a princípio e isso frustrou as expectativas mais otimistas.
O resultado foi um crescimento negativo no primeiro trimestre (-0,2% em relação ao último trimestre de 2018).
A retomada do crescimento nos dois trimestres posteriores (0,4% e 0,6%, em relação ao trimestre anterior, respectivamente) não alterou o panorama de curto prazo.
O crescimento acumulado nos últimos 12 meses manteve-se quase que inalterado ao longo dos três primeiros trimestre de 2019 (0,9% no primeiro trimestre e 1,0% no segundo e no terceiro trimestre).
No ano de 2019, o crescimento do PIB deve ficar em torno de 1%, o dólar fechou o ano valendo R$ 4,05 e a taxa Selic em 4,5% ao ano.
O que embala o otimismo atual não é um novo governo, mas a mudança na condução da política monetária.
Em especial, a queda das taxas de juros e a ampliação do crédito.
A expectativa de crescimento do PIB em 2020 é de 2,3%, a taxa Selic deverá terminar o ano estável em 4,5% e a inflação em 3,61%, segundo o relatório Focus do BCB de 30/12/2019.
Apesar de não contribuir diretamente para o crescimento econômico de curto prazo, a reforma da previdência, atrelada a uma taxa de inflação de primeiro mundo, possibilitou a queda mais acentuada da taxa de juro básica, em termos reais, desde julho.
A manutenção do otimismo dessa vez vai depender mais da criação de empregos formais (cerca de 200.000 por mês), da melhoria da renda média do brasileiro e da queda do endividamento das famílias, do que de grandes reformas econômicas ou de uma melhoria substancial das contas públicas.
Não que não haja reformas importantes a serem feitas, especialmente a tributária. Mas em ano eleitoral, e num clima de polarização política, as chances de uma reforma desse porte ser aprovada ficam mais reduzidas.
Não que as contas públicas irão piorar ainda mais. Na verdade, elas devem apresentar uma pequena melhora, seja em função do arrocho fiscal ou das despesas com os juros da dívida pública. Mas as contas públicas ainda irão dar uma contribuição negativa para o PIB em 2020.
Além disso, alguns gargalos da economia (principalmente, infraestrutura e energia) devem ficar mais evidentes. O cenário externo, por sua vez, deve estar menos hostil, porém não muito mais auspicioso.
Portanto, apesar de o clima de otimismo no final de 2019 se assemelhar ao do final de 2018, as razões para tal são outras e não menos desafiadoras.
Estimular a economia com política monetária é fundamental para o crescimento econômico, mas ela tem lá os seus limites, como a experiência internacional tem demonstrado.
De qualquer forma, em 2020, a economia brasileira deve apresentar um crescimento maior do que o experimentado em 2019.
Assim, o otimismo desse ano deve ser um pouco mais sustentável do que foi em 2018. Não será um crescimento “chinês”, mas deverá ser o melhor resultado desde 2014.
*Sérgio Birchal
economista e professor.
Atuou como economista-chefe da Fiemg.
Meu entrevistado no Talk Show “JoãoCarlosAmaral Entrevista: Economia & Negócios!!!”