Dez cabeças pensam melhor que uma. Esse é um daqueles velhos ditados que, na verdade, nunca envelhecem, não é mesmo?
E, foi assim, da união de mais de uma cabeça que surgiu o ‘Movimenta-SE’, grupo criado por diversos empresários, representantes de entidades regionais e nacionais, realizadores, produtores e fornecedores de todas as categorias que envolvem o setor de eventos de Belo Horizonte e região.
Com o decreto do distanciamento social para evitar a transmissão do novo coronavírus, o setor, que tem o objetivo oposto, que é reunir pessoas para comemorar, entreter, socializar, obter conhecimentos, cultura, esporte foi o mais afetado.
E, como manter as empresas se não existem mais possibilidades de realizar o agrupamento social? Essa foi a pergunta que todos se fizeram e, a maioria, pensava que a única saída era fechar o negócio porque não conseguiria se manter.
A questão financeira era a primeira e principal preocupação de todos eles, desde as produtoras, promotores, os locadores de espaços, os fornecedores, as empresas de montagens, credenciamentos e toda cadeia produtiva de serviços terceirizados que impactam mais de 70 setores da economia, totalizando uma movimentação de 936 bilhões de reais ao ano no Brasil.
Juliana Foureaux, consultora de eventos, é uma das criadoras do movimento, começou a pensar junto com outros colegas até que todos perceberam que estavam passando pelas mesmas dificuldades e tendo as mesmas dúvidas e resolveram se unir.
De um grupo inicial de dez pessoas, hoje o movimento já une mais de cem empresas da capital mineira e dezenove representantes de entidades nacionais. “Quando conversei com os meus colegas, alguns deles chegaram a me dizer que iriam ter que fechar as portas e mandar os funcionários embora porque não conseguiriam verba para se manterem durante esse tempo de distanciamento social. Foi então que nos juntamos para buscar formas de financiamentos e receitas para ficarmos mais tranquilos com o caixa e podermos trabalhar para levantar outras soluções”.
O grupo conseguiu facilidades para obtenção financiamentos mais justos para o setor nesse momento de crise. Jair Aguiar, presidente do Belo Horizonte Convention Bureau, diz que as entidades tem feito vários esforços para contribuir. “Nós do Convention Bureau, a CDL-BH, a Abrasel, a Abnh, a belotur, a secretaria de cultura e turismo temos nos reunido praticamente todos os dias desde que a pandemia se instaurou no Brasil para buscar soluções.
E, algumas delas, já estão sendo implementadas, como é o caso do adiamento do prazo para sessenta dias para o pagamento do simples.” Mas Jair diz que, além dessa ação, o apoio ao grupo tem sido importante para que a classe e toda a categoria se mantenham unidas.
“O cenário é de muitos desafios e vamos precisar ter bastante cuidado para que milhares não venham a falência. A ajuda do governo é muito bem-vinda, mas não é suficiente. Como o nosso setor foi o primeiro a parar e será o último a poder voltar, temos que ter muita prudência nas ações, porque já são milhares de pessoas desempregadas e autônomos sem ter o que comer”.
O tamanho do segmento pode ser dimensionado pelo PIB gerado ao Brasil, 12,93%, índice maior que o das indústrias automobilística, farmacêutica e a petrolífera.
Com o isolamento social, eventos foram proibidos de acontecer, bares, restaurantes, comércio estão fechados, só podem atuar em sistema de delivery, se tomadas medidas de segurança.
O setor de turismo está totalmente estagnado. Por isso, ainda segundo Jair, o Movimenta-SE é uma iniciativa muito importante para que as soluções sejam encontradas cada vez mais rapidamente e que protocolos sejam criados para o futuro mais seguro do empresário e também do público. “Estamos juntos buscando protocolos para que as empresas reabram com regras determinadas pelas entidades, mas além disso, querermos que essas normativas tenham ainda a chancela dos órgãos competentes.”
A paralisação do setor não só tem sido ruim para quem está envolvido na produção direta ou indiretamente dos eventos, como para o público em geral.
Segundo Aluísio Mourão, gestor de novos negócios da HBA Tecnologia e um dos líderes do grupo Movimenta-SE, “o ser humano precisa de eventos, encontros, participar de festas, casamentos, eventos para buscar conhecimentos, feiras para ampliar negócios, enfim. Nossa vida seria muito chata sem esses momentos de interação, de relacionamento, de lazer.
A gente ouve histórias de casais que estão juntos há anos e que se conheceram em shows, famílias promovendo aniversários, pessoas planejando sua ida ao teatro, se deparando com intervenções nas praças...
E, de uma hora para outra, tudo parou. Mas, como somos tão criativos, o mercado vem mudando.
Tão aí as lives começando a fazer sucesso com vários tipos de eventos. O mercado vai continuar mudando, por isso é preciso se reinventar, mas os desejos das pessoas, as suas necessidades de interação, vão continuar existindo, por isso estamos trabalhando para trazer soluções para esses problemas.”
Uma das ideias que tem surgido no movimento é a realização de eventos híbridos, envolvendo público presente e também virtual. Mas muitos dos serviços que são necessários para o evento presencial ficariam de fora desse projeto, então o grupo se movimenta para a produção de uma normativa atualizada para a execução segura de eventos dentro das orientações do Corpo de Bombeiros, Anvisa e Estado. Rodrigo Rocha, produtor de eventos e especialista em gestão de grande públicos, é um dos líderes na produção dessa nova cartilha de normas para a realização dos eventos pós pandemia.
“Estamos criando esse documento com base nas recomendações dos órgãos oficiais e públicos como, Corpo de Bombeiros, Anvisa, e médicos especialistas, como os infectologistas, para podermos nos programar para o futuro do setor para já saber como nos preparar para os próximos eventos de uma forma mais viável e, principalmente, segura para todos.”
A ideia do Movimenta-SE é justamente manter o setor engajado, unido e criativo para que soluções apareçam agora e, quando o setor for autorizado a atuar novamente, eles estejam preparados. Jair ainda reforça que é preciso focar no day after, “Precisamos trabalhar as estratégias, como estamos fazendo no Movimenta-SE, para produzirmos um só pleito para ajudar e agilizar o trabalho do poder público, pensando no day after”. “A produção deve continuar durante a pandemia. Nós queremos ser o primeiro estado a executar um evento no dia seguinte à liberação”, reforça Juliana.
A principal preocupação do Movimenta-SE é apoiar todas as categorias que são envolvidas quando se trata da produção de um evento. A estatística revela que uma em cada quatro pessoas trabalham direta ou indiretamente para o segmento, são 25 milhões de empregos gerados em todo o Brasil. “Nesse momento de fragilidade é muito importante demonstrar os valores de cada categoria envolvida na engrenagem do evento. Todos tem o seu valor e queremos dar forças aos fornecedores que sempre nos apoiaram e nos ajudaram em tudo, para que, quando a gente retornar com força total, podermos contar com essas pessoas que sempre estiveram ao nosso lado prestando um serviço com qualidade, pontualidade, e, principalmente, com aquele sorriso no rosto.” avalia Karla Delfim, que é CEO da Usina de Eventos e diretora da Abrafesta.
E o movimento vai além de cada um pensar apenas na sua própria empresa ou próprio negócio. O grupo de apoio social também surgiu para ajudar os autônomos, os freelancers, que trabalham durante os 590 mil eventos por ano, 1600 por dia em todo o Brasil, mas que não possuem vínculos nenhum, como alguns colaboradores da limpeza, pipoqueiros, vendedores ambulantes, guardadores de carros, garçons, seguranças, floristas, manobristas, técnicos, etc.
A ideia é montar cestas básicas e outros produtos de primeira necessidade que estejam faltando nessas casas. “Essas pessoas estão passando por necessidades hoje. Algumas, literalmente, não tem o que comer. E a gente achou que deveríamos fazer alguma coisa para contribuir com eles, que sempre estão assessorando as nossas produções”, conta Marcos Tayrone, que é gerente operacional da Prime Conservadora e que está à frente dessa ação pelo Movimenta-SE. Um levantamento dessas famílias tem sido feito pelas empresas e deve ser finalizado na próxima semana.
O grupo vai reforçar a campanha #ameeopróximo. Segundo o diretor da Nenety Shows Eventos, Francisco Tófani, as forças estão sendo concentradas nesse projeto. “O cadastro deve ser feito por pessoas que são autônomas, diaristas ou freelancers e que não recebem benefícios de outros programas ou instituições. Nós vamos disponibilizar um link de cadastro para que as empresas encaminhem para essas pessoas preencherem. Após elas completarem o formulário, elas enviam o cadastro diretamente para a central da campanha. Esse cadastro passa por uma conferência e, estando tudo ok, a pessoa entra para a fila para receber as doações. Estamos fazendo esse trâmite para que as doações sejam mais transparentes e seguras possível.
Hoje já possuímos cadastros de pessoas e famílias que estão passando fome e vamos tentar dar prioridade aos mais necessitados. As doações estão chegando de pessoas amigas, empresários, e também de artistas regionais, que tem feito lives para arrecadar doações e nos tem enviado parte delas, mas estamos contando com o apoio também de toda a sociedade.”
Fonte
22 graus comunicação
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